segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Bloody Feathers

Me partiu a alma ao sentir a aflição que me sucedeu em meu regresso ao lar nessa tarde de hoje. Ao passar pelo terminal do Portão me deparei, não com uma, mas com TRÊS POMBAS ESMAGADAS em uma área menor que 1 m², expondo perfeitamente suas vísceras no chão recém tingido de vermelho pelos pigmentos ferrosos que ali se pressionaram.
Não é de hoje que se vê pombas, ratos, ou até cachorros e gatos esmagados contra o asfalto, e também não é meu costume ficar abalado pelas vezes que acabo reconhecendo a morte através de "terceiros"... eu, que desde pequeno reconheço a morte, não pude me conter a não ser me indignar por aquelas três pombas que foram completamente despedaçadas, no mesmo instante, há no máximo uma hora. Por quê?
É fácil para muitos ignorarem essa questão. Se pensarmos por aquele lado cético e humoroso,  pombas podem não passar de vetores de doenças alados, nos quais todos  já se imaginaram dando uma paulada com um taco de baseball pelo menos uma vez na infância, ou simplesmente animais em abundância que, por motivos de evolução ou não, mimetizaram muito bem as cores das metrópoles. Mas é impossível negar pensamentos por seres com quem a mente se caracteriza, e por isso é comum ver pessoas lamentando o abandono ou tortura de cachorros e gatos, mamíferos- nenhum ser humano pode negar o fato em comum que temos de sermos mamíferos- dessa forma é possível projetar a própria consciência sob o animal e sentir uma profunda empatia. Mas nada se vê em relação às pombas, como se ninguém se caracterizasse com essa forma de vida... Não vou ocupar esse caso falando sobre as características que admiro e me aproximam das aves pois isso confundiria a intenção, basta vê-las como seres vivos que dividem o mesmo espaço que o nosso que já temos duas semelhanças.
Mas antes de sentirmos empatia pelo animal, pensemos no humano, no motorista de ônibus que, de alguma forma, conseguiu esmagar três animais voadores ao mesmo tempo. É possível pensar em todas as possibilidades prováveis que a física defenderia, encenando um ônibus acelerado atropelando, inocentemente os animais antes destes conseguirem fugir. Isso me seria aceitável se fosse apenas um animal, e não três... TRÊS!! O motorista simplesmente matou três pombas , e não posso deixar de imaginar como um humano estressado num dia de calor não foi capaz de desacelerar aquela máquina a fim de evitar uma tragédia... Mas esse é o problema: Que tragédia?? Me convenço muito mais de que um motorista desses estava tão estressado que nem viu o que aconteceu, e se visse, não pensaria em outra coisa além de mandar um strike e se sentir poderoso por ver que tirou vidas...... O que estou falando?? Não! Minha raiva e meus motivos pessoais não me dão o direito de julgar o autor desse caso. Todavia não deixo de afirmar que é o mais provável.
E tudo isso ainda me lembra daquela vez em que, na rua lateral ao bloco de ciências biológicas da UFPR, eu e meus amigos assistimos à freada brusca de um carro conduzido por uma moça que, ao ver filhotes de passarinhos que não podiam voar, esperou até que eles tivessem alcançado a grama para então prosseguir, para que depois nós fizéssemos comentários de naturezas mais variáveis possíveis. Nesse dia, sim, uma tragédia foi evitada, mas não hoje.
Sinto vontade de voltar no mesmo lugar, agora mesmo, para retratar a cena com perfeita precisão e repassar para todos... mas para quê? O mundo já está cheio de tragédias, e mostrar a cena que vi não seria a melhor forma de expor os meus pensamentos e a mensagem intensa que eu gostaria de passar. Não é o que eu ou ninguém quer ver por aí... Não imagens de seres mortos e desfigurados, mas vida e harmonia nas sociedades.


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