terça-feira, 2 de outubro de 2012

Valsa sobre o gelo

Vaga-lumes cor de bário cintilante
Dançam sobre o translúcido lago de cristal.
Suas luzes reluzem assim distantes
Nos diamantes esquecidos da fossa abissal.

Seu brilho há muito cega,
Sua forma bela consome
Feixes finos luz de vela
Lá atraídos por sua fome.

Encantados com a música que os distraem
Dançam em pares no etéreo gasoso.
Suas luzes e movimentos que os atraem
São obras de arte ao momento amoroso.

O tempo passa e o vento muda,
Leva a calma embora voando.
Traz consigo uma grande chuva.
Enfraquece o fogo um dia brando.

E com isso, um deles cai
Mergulhando no sólido frio
Mas seu brilho, que nos atrai,
Ainda vive no abismo sombrio.




In Natura

Sobre o caos impõe-se a ordem,
As palavras por si só dão-se vencidas,
Assim se parece, pois cedo fogem
Se no exato momento não forem escritas.

Aproveita, então, de boa forma, o tempo,
Subindo altas montanhas e descansando contra o vento.
Sinta as as minúsculas gotículas que o vento leva
Da água celeste que hoje nos rega.

Olhe bem para aquela flor, vermelha e sem louvor;
Suas pétalas não mais ergue, nada vale o seu calor,
Um perfume ainda exala, mas de longe nada sinto,
Não me ouso aproximar, tampouco a vejo vindo.

E como é belo, me surpreendo, o canto dessas pequenas
Formas de vida que voam exibindo vossas penas.
No acaso me pergunto: O que teriam a dizer
Sobre o ar e a água que vivem no meu ser?

Nada dizem, nada sabem, seu canto cessa no instante.
A chuva segue a diante, fortes pingos logo nascem.
Está chorando, grande nuvem? O que teus gases trazem?
Mostra-me de novo, se puderes, aquele azul brilhante.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E por quê não?

Vocês se despediram , eu me despedi, e então seguimos juntos um caminho. Era interessante notar que não eram os nossos próprios passos que guiavam nosso caminho pois eramos carregados e arrastados, como um casal nobre que em uma carruagem sendo conduzido por servos, ou parte da realeza indiana sentada em tronos no alto de um enorme elefante.
De repente sentimos que aquilo era o que devia ser feito. Para ser sincero, talvez eu só tenha percebido isso depois que me deixei levar por você: Jogou-se aos meus braços e e beijou a minha boca como se fosse a única que existisse na sua vida. Entre as mordidas e os suspiros, por aqueles momentos que nossas bocas se separavam para respirar, eu pensava no crime, no pecado que estávamos cometendo. Eu sabia disso plenamente, mas eu não conseguia dizer, por mais que eu quisesse, as palavras não sairiam.
"Ele já está longe, não pode nos ver. Você sempre quis isso, não? Seu corpo não consegue esconder, está em chamas, e agora seu sexo rígido aponta para mim e clama pelo meu calor. Agora você é meu."
Lentamente sua boca se afastou da minha , mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa senti a sua língua provando o gosto da minha fertilidade, por todo o caminho, sem cessar, repetidamente, sem desperdiçarmos um segundo.
Agora compartilhamos esse pecado. Não nos vimos mais, e sei que não devemos, a fim de evitar o sentimento de culpa. Entretanto não perdemos a esperança, pois ambos sabemos que teremos a eternidade disponível para nos amarmos quando finalmente nos encontrarmos no inferno.